Pesadelo...

Lá fora, tempo estranho. As nuvens encobertam o sol, são cinzas, escuras, e densas, uma chuva fina cai. As árvores balançam ao som do vento tocado. Pássaros, quase não há, estão provavelmente escondidos. Pessoas se amontoam sobre bancos no ponto de ônibus, debaixo de coberturas, encostadas nas paredes, outras passam correndo, com o guada-chuva na mão arranhando o rosto dos mais distraídos que passam ao lado. Pessoas...elas ultimamente tem muita pressa, e medo da chuva. Medo de chegarem molhadas nos lugares, medo de pegar gripe, resfriados, pneumonias. Claro, se não se alimentam direito, é fato que pegarão alguma doença mais facilmente. Elas não sabem observar o que acontece ao seu redor, não sabem prestar atenção ao simples fato de uma folha da árvore vir caindo devagar e levemente ao seu encontro, não escutam o canto do vento, não vêem o bailado das árvores. Coitadas, não sabem o que perdem!


Aqui dentro, estou presa. No conforto de uma cadeira dura, sentada e olhando somente para um mesmo ponto durante oito-longas-horas do dia. Minhas costas agradecem quando levanto para ir ao banheiro ou tomar água. Aqui dentro a luz é artificial, meus olhos são forçados à intensidade delas, e saem cada dia mais machucados, doloridos e cansados. Aqui dentro, sei pouco sobre as pessoas, somente o nome delas, talvez. Elas quase não falam, são somente rostos estranhos que cumprimentamos quando nos cruzamos pelos corredores. Cada um é identificado por um número, na verdade, acho que não só aqui dentro, mas como lá fora, acabamos nos transformando em números e não mais pessoas. Você tem um R.G., um C.P.F., título de eleitor, número da sua conta no banco, número da sua carteira profissional, números, e mais números...tudo o que somos para o mundo é ser um número, quer dizer, um não, vários!
O dia todo você tem muitas coisas a fazer, e acaba fazendo correndo, saí do trabalho, e vai correndo pra casa, vai dormir tarde e acorda atrasado, e lá vai você correndo pro trabalho novamente. Você vive correndo, e não tem mais tempo de nada. Que horror, olha no que sua vida se transformou. Se transformou naquilo que você abominava quando mais novo. Dizia: "eu, não! Sempre terei tempo para vocês meus amigos, sempre lhes estenderei a mão!", mas olha só o que lhe aconteceu! Você nem sabe mais por onde andam seus amigos, o que fazem da vida, se estão bem, se estão felizes, tristes, se lhes falta algo...Está ai, sozinho agora, os únicos amigos que tem são aqueles os quais são somente rostos estranhos pelo corredor.
Sábado à noite? Que sábado? Você acaba ficando cansado de tanta correria durante a semana que nem dá vontade de sair, e encontrar, uma vez na semana, seus velhos amigos e companheiros! Acaba por dormir no sofá da sala assistindo um filminho qualquer que está passando na TV. Domingo? Ah, domingo é sagrado, é dia de família, ver seus parentes. Mas acaba ficando de saco-cheio deles, pensa: mais são sempre as mesmas conversas, podia estar em casa agora, dormindo ou fazendo alguma outra coisa. E nem lhes dá atenção direito. E novamente sua rotina começa, segunda você sai de casa correndo novamente, e chega atrasado naquele lugar onde encontra com os mesmos rostos estranhos pelos corredores.

-Ahhhhhhh!!!!! Ohh Mãeeeee!!!!!!!! Tive um pesadelo...
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Não seja mais um rosto estranho no corredor da vida para as pessoas, olhe-as nos olhos quando estiverem lhe falando, perceberá o quanto pode conhecer alguém somente com esse ato!

03/08/2006