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segunda-feira, 12 de outubro de 2015

A Viagem

O governo ditatorial estava enlouquecendo mesmo! Não sabíamos ao certo o por quê de tudo isso que estavam fazendo contra nós!
A última do governo foi: buscar pessoas, na maioria delas mulheres, que nunca tinham entrado e nem se quer visto um foguete na vida, que fossem mandadas para a Lua. Sim, sem treinamento, sem instruções, sem preparação psicológica, e tudo por que? Simples, precisavam testar se os foguetes iriam resistir ao peso das pessoas e suprimentos. Mas não, ao invés de colocar pesos e mandar, eles resolveram sacrificar pessoas, sem saber se realmente iriam sobreviver a tudo isso!

As escolhas das pessoas? Se é que há uma maneira de saber quem deve morrer primeiro ou não...ser Deus! O único critério adotado foi: mulheres solteiras na faixa etária de 30 a 45 anos. Sim, eu me incluía nessa leva. E quando menos esperava fui convocada. Eu, como todas as que estavam embarcando, não queria ir! Tinha uma família, mesmo sendo solteira! Meus pais precisavam e irmão de mim! Mas não teve jeito, eu era mulher, com 32 anos, e solteira, o que fazia estar no topo da lista.
Chegando lá, fui acompanhada por um jovem astronauta até o foguete, ele seria nosso "capitão". Estava tentando me acalmar, dizia que dessa vez tinha certeza de que iríamos conseguir. Me contou também que por ele ser jovem e sem família, foi o escolhido dentre os outros capitães para comandar a nave de hoje.
Entramos no foguete, mas havia muito barulho ali dentro, as outras mulheres choravam muito! Estavam todas muito apavoradas.
Sentei-me ao lado de uma que parecia calma e conversava com uma outra senhora ao seu lado direito. Olhou pra mim, deu-me um sorriso e continuou sua conversa com a mulher ao lado. Olhei em volta, tudo muito estranho, várias cadeiras, ao fundo um painel de controle onde encontrava-se sentado nosso capitão. Aquela cabine era pequena, mas o foguete era muito mais que aquilo, me lembro de tê-lo visto de longe e achar enorme!
Meu estômago começou a dar voltas, meu coração disparado, e eu queria pensar em qualquer outra coisa, mas não conseguia. Só o que pensava era: eu sei que vai cair! Não vai dar certo! Tem algo errado com essa "geringonça"!
Foi quando vi um homem do lado de fora se aproximar e fechar a cabine. Realmente não era um sonho, eu estava mesmo dentro daquela coisa que iria me matar, eu sabia que não havia mais escapatória. E o foguete começou a se mexer, e eu ficando nervosa não conseguia ver mais nada à minha frente, nem dos lados, minha vista escureceu, tinha certeza de que era minha pressão, eu iria desmaiar, mas precisava de um consolo saber que havia mais alguém ali. Então mexendo as mãos para o lado, encontrei a mão da minha companheira de "aventura". E a agarrei firme, e ela o mesmo, acho que estava tão apavorada quanto eu. Mas a mulher no fundo da nave gritava muito, o que me deixava mais nervosa ainda. Ela podia parar de gritar! Meu coração, eu sabia que estava viva somente pela velocidade com que ele ainda batia, tão rápido! Aquela sensação...nunca vou me esquecer. A mão daquela moça deve ter ficado doendo, pela força com a qual a apartei, mas era a única coisa que me "confortava", mas conforto mesmo...não tinha nenhum.
O foguete então embicou, ficamos presas somente pelo sinto de segurança...segurança, que ironia, ali não havia segurança de nada, nem sabíamos ao certo se dali sairíamos vivas! Meu Deus, acho que realmente já era! Meu coração dava saltos. Eu só queria sair dali!
E ele começou a subir, e a sensação era horrível, meu estômago subia junto. Tudo doía...cabeça, pelo meu choro, minha vista, pois ainda achava que a qualquer instante iria desmaiar, minha mão, assim como eu apertava a mão dela, ela apertava com força a minha. Que desespero! Nunca senti isso na minha vida.
De repente, não sabendo o que houve, por não ser perita naquilo, mas sabia que algo havia de errado, o foguete começou a inclinar para a frente e a descer. Me agarrei ao braço dela com mais firmeza, sabia que não iria dar certo!
O capitão gritou, para que nos acalmássemos, pois estava dando um jeito. E graças a Deus, ele realmente deu! O foguete voltou ao curso normal e conseguimos sair da órbita à tempo! Sim, nossa missão havia dado certo! Não falhos, o foguete não falhou, o capitão não falhou!
Depois de chegarmos lá, somente o capitão desceu, colheu umas amostras e retornamos para a Terra.
Agora, sentada aqui, relembrando tudo isso que aconteceu, ainda sinto aquele arrepio na espinha e a sensação de enjoo, a sensação de que nunca mais iria voltar! Dormindo às vezes me debato na cama desesperadamente, com um pesadelo de que estava retornando àquilo tudo! E acordo com os batimentos cardíacos acelerado, a mão molhada de suor, e o estômago embrulhado!

30/12/2006
{Todas as sensações que descrevi foram sentidas durante um sonho!}

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